terça-feira, 4 de novembro de 2008

Liderança espiritualizada - Parte 1

por Eunice Aboláfio

Para abordar este tema e atingir todo seu âmago, preciso iniciar tratando de um importante questionamento que me perseguiu durante anos de vida corporativa e que também deve estar presente na mente de muitos.

Aplicar a espiritualidade em uma empresa não seria uma utopia? A espiritualidade seria compatível com a competição do mercado, com os jogos de poder e vaidades e a sobrevivência financeira? Como ser um monge dentro de uma empresa, suportar as cobranças torturantes do dia-a-dia e ainda ter dinheiro para pagar todas as contas do mês?

Precisamos de professores para ensinar como viver com amor, dignidade e respeito à vida. A sociedade precisa de líderes que ensinem também como agir desta forma nas atividades profissionais e ter sucesso.

Pretendo abordar neste e nos futuros artigos, assuntos e situações práticas vividas por mim, que podem realmente ajudar a trilhar este caminho, mesmo sabendo que estaremos dando apenas incentivo para alguns pequenos passos de uma grande e necessária mudança pessoal e corporativa.

De nada adianta a presença freqüente aos encontros religiosos de domingo para rezar, jurar seguir as doutrinas e pedir a ajuda divina e na segunda feira assumir uma outra identidade, com atitudes incompatíveis a tudo isso. Certamente, é mais fácil praticar os valores humanos dentro de um mosteiro ou uma igreja, mas no estágio evolutivo em que a humanidade se encontra, temos que aprender como fazer isso também no ambiente de trabalho, com os amigos e na família.

Enfatizei a importância do “como fazer”, pois senti na pele os meus conflitos internos, quando sabia não ser certo ou justo fazer alguma coisa que a cultura empresarial ou meus chefes exigiam que eu fizesse, apenas por que era necessário ser feito. Com olhares maldosos esses “chefes”, pobres seres humanos adormecidos, diziam que era assim que eu aprenderia a gerenciar equipes. Sofria, mas sabia que “as empresas não tinham coração” e que se eu quisesse continuar a trabalhar e seguir uma carreira corporativa, haveria de aprender a agir assim ou sobreviver até encontrar um outro caminho melhor, que não conseguia enxergar.

Felizmente, encontrei alguns líderes de verdade, que foram me mostrando gradativamente como agir com respeito para com as pessoas e também como ensinar, delegar, cobrar e desenvolvê-las, com o mais importante: trazendo resultados para a empresa. Assim eles fizeram comigo e eu com outros. Uma verdadeira corrente do bem, também muito invejada e criticada dentro das empresas.

Vi muitas vezes estes líderes maravilhosos serem desrespeitados ou criticados pelos seus pares e superiores, aqueles mesmos seres humanos adormecidos que também eram invejosos, mas mesmo acompanhando o sofrimento deles, eu e muitos outros os admiravam mais e mais, pois eles não mudavam suas atitudes para adormecerem como os outros. Tempos depois era eu quem estaria sofrendo estas mesmas situações e procurando seguir seus exemplos.

Hoje percebo que muito sofri quando algum de nós mudava de empresa. Achava que nunca mais encontraria pessoas assim. Realmente, não era tão fácil mesmo, mas de alguma forma nós nos reencontramos muitas outras vezes, até para trabalharmos novamente juntos em outras empresas e projetos. Formamos ótimas equipes de trabalho, pois havia entre nós o conhecimento seguro de que compartilhávamos dos mesmos valores e comportamentos. Assim, tínhamos nossos objetivos em comum, todos eram informados de tudo e as decisões eram compatíveis. Dirigíamos as equipes com total sincronismo, atingíamos bons resultados e o clima era excelente, trabalhávamos felizes, mesmo com os ataques de outras áreas.

Certa vez, estávamos vivendo uma séria crise na empresa e até os salários chegaram a atrasar alguns dias. Procurávamos conversar muito com as equipes e mantínhamos todos informados das ações que estavam sendo tomadas, das datas certas em que os pagamentos seriam realizados e pedíamos idéias para novas ações, assim como enfatizávamos a importância de estarmos unidos para superar a crise. Mesmo nesta situação, as equipes trabalharam duro, até mesmo além do horário normal e ainda assim a alegria continuava.

Havia respeito e confiança nas lideranças que também estavam sempre presentes, além de reconhecer a força da equipe.

Outros líderes, invejosos e rígidos dentro de seus escudos, rejeitavam de pronto qualquer nova idéia, sempre listando inúmeros empecilhos ou ainda querendo mostrar que já haviam feito isso no passado e que de nada adiantou. Seus colaboradores estavam apáticos, tristes e achavam que as equipes felizes eram formadas de palhaços, alienados no meio de uma desgraça.

Todos tiveram que passar pela crise, mas alguns foram mais felizes e souberam fazer dela a oportunidade de crescimento e aprendizado; outros, apenas sofreram.

Deixo aqui algumas dicas:

▫ Acredite que é possível ser um ser humano melhor e assim melhore suas relações com a família, filhos, colegas de trabalho, chefias e muitas outras.
▫ Não queira mudar os outros, foque nas suas mudanças.
▫ Não tenha medo ou vergonha de ser diferente. Procure AMAR, não julgar e entender as pessoas e seus sentimentos. Você verá o quanto somos parecidos com nossos medos, mas diferentes em nossas reações e sentimentos.
▫ Procure ter mais consciência do impacto que suas palavras e ações causam nas pessoas ao seu redor e pergunte a elas de que forma você poderia melhorar, mas por favor, ouça com atenção sem justificar-se, certo?
▫ Fale mais de seus sentimentos e dificuldades para as pessoas que ama, até mesmo para seus filhos pequenos. Eles irão enxergar o quanto você é gente como eles e ficarão mais próximos.
▫ Seja cada vez mais humilde e menos competitivo. Não fique exibindo suas qualidades, mas perceba e valorize as qualidades alheias.
▫ Quando alguém o irritar com alguma atitude, descubra quando e com quem você também é assim, mesmo que em menor intensidade ou mais disfarçado.

Lendo, pode parecer tudo fácil ou até que já é feito normalmente, mas será que seu marido, esposa ou companheiro(a) diria a mesma coisa? E seus colegas ou subordinados?
Que tal praticar a humildade e perguntar a eles?

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