quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

As armadilhas do Ego

- ELISABETH CAVALCANTE -


O ego está sempre pronto para boicotar qualquer tentativa que empreendemos para escapar ao seu controle. Uma das armadilhas mais usuais do ego é fazer com que nos sintamos confortáveis na doença. Para isso, ele nos convence de que nossos problemas emocionais podem nos trazer a atenção do mundo e reverter nossa carência.

Muitas pessoas afirmam o tempo todo que gostariam de vencer suas dificuldades emocionais, mas rejeitam qualquer iniciativa prática que as levará a este objetivo.

As dificuldades que costumam criar para encontrar uma saída, constituem a saída que seu inconsciente encontra para fazer com que continuem presas ao ego negativo, aquele que fará de tudo para impedir que elas acessem seu verdadeiro ser.

As terapias tradicionais ajudam a ter consciência deste processo, mas não avançam no sentido de ajudar as pessoas a entrar em contato com aquela parte de seu ser que de fato as libertará do sofrimento. Isto porque, as terapias ocidentais se limitam a tratar a mente, quando é exatamente ela, a mente, o nosso principal problema.

As terapias são muito úteis como instrumento de catarse das emoções e bloqueios reprimidos e ajudam as pessoas a se perceberem de forma mais clara. Isto é importante porque muitos sofredores não têm sequer idéia dos principais motivos ou origem de seus sofrimentos emocionais.

Entretanto, este é apenas o primeiro estágio para a cura. O outro, o que realmente nos levará a um novo patamar de consciência e nos libertará dos mecanismos da mente e suas projeções, é a meditação. Ambas, terapia e meditação, devem caminhar juntas para proporcionar ao ser humano uma ferramenta realmente eficaz para driblar as armadilhas do ego.

Ego, o falso centro
... A sociedade cria um ego porque o ego pode ser controlado e manipulado. O Eu nunca pode ser controlado e manipulado. Nunca se ouviu dizer que a sociedade estivesse controlando o Eu - não é possível.

... O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. E é por isso que você está continuamente pedindo atenção.
Você obtém dos outros a idéia de quem você é. Não é uma experiência direta.
É dos outros que você obtém a idéia de quem você é. Eles modelam o seu centro. Mas esse centro é falso, enquanto que o centro verdadeiro está dentro de você. O centro verdadeiro não é da conta de ninguém. Ninguém o modela. Você vem com ele. Você nasce com ele.

Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência. Esse é o Eu. E o outro centro, que é criado pela sociedade - o ego. Esse é algo falso - é um grande truque. Através do ego a sociedade está controlando você. Você tem que se comportar de uma certa maneira, porque somente assim a sociedade irá apreciá-lo. Você tem que caminhar de uma certa maneira; você tem que rir de uma certa maneira; você tem que seguir determinadas condutas, uma moralidade, um código. Somente assim a sociedade o apreciará, e se ela não o fizer, o seu ego ficará abalado. E quando o ego fica abalado, você já não sabe onde está, você já não sabe quem você é.

Os outros deram-lhe a idéia. E essa idéia é o ego. Tente entendê-lo o mais profundamente possível, porque ele tem que ser jogado fora. E a não ser que você o jogue fora, nunca será capaz de alcançar o eu. Por estar viciado no falso centro, você não pode se mover, e você não pode olhar para o Eu.

... Até mesmo o fato de ser infeliz lhe dá a sensação de "eu sou". Afastando-se do que é conhecido, o medo toma conta; você começa a sentir medo da escuridão e do caos - porque a sociedade conseguiu clarear uma pequena parte de seu ser... É o mesmo que penetrar numa floresta. Você faz uma pequena clareira, você limpa um pedaço de terra, você faz um cercado, você faz uma pequena cabana; você faz um pequeno jardim, um gramado, e você sente-se bem. Além de sua cerca - a floresta, a selva. Mas aqui dentro tudo está bem: você planejou tudo.

Foi assim que aconteceu. A sociedade abriu uma pequena clareira em sua consciência. Ela limpou apenas uma pequena parte completamente, e cercou-a. Tudo está bem ali. Todas as suas universidades estão fazendo isso. Toda a cultura e todo o condicionamento visam apenas limpar uma parte, para que ali você possa se sentir em casa.

E então você passa a sentir medo. Além da cerca existe perigo.
Além da cerca você é, tal como você é dentro da cerca - e sua mente consciente é apenas uma parte, um décimo de todo o seu ser. Nove décimos estão aguardando no escuro. E dentro desses nove décimos, em algum lugar, o seu centro verdadeiro está oculto.

... Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se você não voltar a cair no ego, mas for sempre em frente, existe um centro oculto dentro de você, um centro que você tem carregado por muitas vidas. Esse centro é a sua alma, o Eu.

Uma vez que você se aproxime dele, tudo muda, tudo volta a se assentar novamente. Mas agora esse assentamento não é feito pela sociedade. Agora, tudo se torna um cosmos e não um caos, nasce uma nova ordem. Mas essa não é a ordem da sociedade - essa é a própria ordem da existência.

É o que Buda chama de Dhamma, Lao Tzu chama de Tao, Heráclito chama de Logos. Não é feita pelo homem. É a própria ordem da existência. Então, de repente tudo volta a ficar belo, e pela primeira vez, realmente belo, porque as coisas feitas pelo homem não podem ser belas. No máximo você pode esconder a feiúra delas, isso é tudo. Você pode enfeitá-las, mas elas nunca podem ser belas...

Não tenha pressa em abandoná-lo, simplesmente o observe. Quanto mais você observa, mais capaz você se torna. De repente, um dia, você simplesmente percebe que ele desapareceu. E quando ele desaparece por si mesmo, somente então ele realmente desaparece. Porque não existe outra maneira. Você não pode abandoná-lo antes do tempo. Ele cai exatamente como uma folha seca.

Quando você tiver amadurecido através da compreensão, da consciência, e tiver sentido com totalidade que o ego é a causa de toda a sua infelicidade, um dia você simplesmente vê a folha seca caindo... e então o verdadeiro centro surge.
E esse centro verdadeiro é a alma, o Eu, o deus, a verdade, ou como quiser chamá-lo. Você pode lhe dar qualquer nome, aquele que preferir".

OSHO, Além das Fronteiras da Mente

Nenhum comentário:

Postar um comentário