quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

10. Ausência

::Bert Hellinger::



Estamos ausentes quando estamos presentes em algum outro lugar. Por isso a nossa ausência adquire o seu significado e o seu valor ou desvalor, pelo significado do valor ou desvalor de nossa presença. Essa ausência pode ser espacial, mental e interna. O clássico “cientista distraído” é ausente por estar presente de forma centrada em algum outro lugar.

O homem que deixa a sua casa de manhã e vai ao trabalho se torna tanto espacial como mental e internamente ausente de sua casa e família. Ao mesmo tempo, ele se torna presente em seu local de trabalho, seu trabalho e sua tarefa. Ele não esta completamente ausente de sua família, principalmente quando compreende o seu trabalho ou a sua tarefa como algo a serviço de sua família, então ela também está presente em seu trabalho, mais como pano de fundo, sem que o seu trabalho ou a sua tarefa sejam prejudicados. Quem sabe ela até estimule esse trabalho através de sua presença latente e ajude o homem a se concentrar mais.

Diferentemente do que quando a família está tão presente, que a presença do homem em seu trabalho e prejudicada, isto é, ele se torna mentalmente ausente por causa dessa presença, fato esse que pode ocorrer, por exemplo, quando está preocupado com sua família. Então a presença da família não prejudica apenas os seu trabalho, mas também a sua família, pois talvez o seu desempenho diminua e isso pode acarretar consequências graves também para a família se, por exemplo, perder o seu trabalho.

Pode ocorrer também o contrário: quando alguém que volta de seu trabalho se encontra ainda tão ocupado com ele, fica, embora parcialmente presente, mentalmente ausente em casa. Às vezes o parceiro, ao reconhecer amorosamente a presença do trabalho, consegue ajudar o outro a se tornar mentalmente presente em casa, para que consiga deixar o trabalho e as preocupações relacionados a ele, tornando-se assim mental e internamente presente na relação e na família.

Porém é diferente quando o trabalho é de um tipo que não permite a ausência, de forma que a presença em casa irá prejudicá-lo. Por exemplo, o caso de um médico, político ou algum outro tipo de pessoa que é responsável também por outros, por outras famílias. Aqui o parceiro pode, ao compartilhar a responsabilidade, apoiar o outro em sua ausência e, apesar de sua própria ausência, estar presente com ele.

O ideal da constante presença do parceiro e a experiência de que ele precisa estar presente o tempo inteiro, de que a sua presença tem prioridade em relação a tudo pode estar relacionado ao fato de que, no passado, o trabalho era apenas uma outra forma de presença também em casa, como por exemplo, em uma fazenda ou também no caso de muitos artesãos. Essa forma de presença constante é atualmente uma exceção. Se esse ideal é transferido para as condições atuais tão diversas, isso conduz, no caso dos parceiros, a expectativas que no podem ser satisfeitas, provocando decepções e sofrimento.

O problema se intensifica quando os dois parceiros assumem um trabalho e uma tarefa fora da família. Encontram-se assim não apenas grande parte do tempo, mas também mental e internamente afastados dos outros da família. Assim a família se desloca do centro da atenção, já que a profissão solicita mais do casal do que a relação e a família. “Mais”, não no sentido de valor, e, sim, no sentido de preparo mental, concentração, risco e responsabilidade. Enquanto as exigências da família e da relação se encontram no âmbito do trivial e no âmbito daquilo que está disponível a todos, o trabalho e as tarefas exigem frequentemente uma formação e experiência nem sempre acessíveis a todos da mesma forma. Por isso, esses dois fatores muitas vezes distinguem e separam as pessoas uma das outras ao invés de aproximá-las. Isso se torna evidente principalmente em parceiros que, para além de seu relacionamento e de sua responsabilidade como pais, estão ativos em profissões com tarefas diferentes. A sua ausência em relação ao outro se torna em função do tempo e de acordo com o sentimento, frequentemente maior e mais profunda do que a sua presença.

A pergunta agora é: como que a presença dos dois, tanto na relação quanto no trabalho e nas respectivas tarefas pode ser preservada e aprofundada, sem que um ou outro sofra com isso? Como é que os dois podem ser conectados através das duas coisas, de modo que a sua presença se intensifique tanto na família como na profissão, como também nas respectivas tarefas e responsabilidades? Na medida em que os dois se tornarem presentes em uma totalidade maior.


Atenção para a próxima postagem 24/02/2011 - Texto: Amor perante a despedida

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